Madlaine por pura teimosia ou determinação, voltou para a casa onde se encontravam o Dr. Stabler e o presunçoso agente federal. Ignorando as recomendações de seu chefe, de não criar confusão, ela decidiu enfrentar o estúpido e imbecil agente. Ao entrar na casa, pôde notar a impaciência de seu amigo legista ao conversar com o outro.
              E, então? Dr. Stabler? – dizia Henriksen imponente. – O que temos aqui?
              Que tal, um sujeito intrometido e arrogante? – afirmou Madlaine, atraindo atenção para sua pessoa. – Adivinha? Eu voltei!
Reedy, o puxa-saco, observou horrorizado, o que parecia a pior das blasfêmias, um ultraje a seu ídolo Henriksen. Já o doutor Stabler olhou para a amiga com uma indisfarçável admiração.
              Fala comigo, detetive? – Henriksen disse, em tom pejorativo. – Esqueceu-se de algo? Ou anda confusa?
              Podíamos cuidar disso perfeitamente!- falou Madlaine incisivamente. – Pode desdenhar nosso trabalho, mas somos capazes! Tanto, ou até mais, que os federais metidos a…
              Madlaine! – interrompeu-a o Dr. Stabler. – Acalme-se! – aproximou-se da amiga e cochichou em seus ouvidos: – ele não vale isso.
              Madlaine? – o policial que a acompanhara até a saída a chamou. – Como seu chefe recomendo que me acompanhe, agora! – bradou decidido. Contudo, disfarçava que havia adorado as palavras de sua melhor policial. Odiara aquele maldito federal metido a besta.
              Ouça-o, Madlaine. – completou o Dr. Stabler. – É melhor assim! – receava que Henriksen pudesse apelar para a grosseria com a amiga.
              Isso vá! – Henriksen disse com um riso malicioso. – Não quer se meter em mais confusão não? Muito menos ser acusada de obstrução a justiça, não é mesmo?
              Isso, isso! Isso mesmo! – Reedy exclamou.
Sem opção, Madlaine acompanhou o chefe. Henriksen a encarou ameaçadoramente e Reedy a olhou com certa raiva. Já Stabler lhe sorriu discretamente, como quem dizia pelo olhar: “Não se preocupe, mandou muito bem, e ai deste cretino se lhe fizer algo”
Enquanto isso, no FBI, Mulder mal notara a espaçosa sala onde seria seu novo local de trabalho. Estava decepcionado por não pertencer mais aos Arquivos-X. Zangado, pegou as chaves de seu carro e, sem deixar nem sequer um bilhete, encaminhou-se até o estacionamento. “Ninguém, ninguém me deu uma satisfação! Nem Skinner, Nem Doggett. Ai, como queria que a Scully estivesse aqui ao meu lado!” pensou. Aproximava-se de seu Honda Civic 2006 quando repentinamente seu celular tocou. Atendeu-o ansioso, certo de que era Scully, sentia muitas saudades da parceira.
              Oi minha linda! – falou animado.
              Hã? Agente Mulder? – era Leyla Harrison.
              Ah! Oi, ag. Harrison! – respondeu sem entusiasmo. – Desculpe, mas…
              Não quero incomodá-lo, ag. Mulder – ela disse rapidamente. – Só queria saber se viu o arquivo-x que coloquei em cima de sua nova mesa! – falou em tom radiante.
              Como? Você disse que me deixou um arquivo? – ele parecia incrédulo.
              Isso! – agora ela baixou o tom de voz para quase um sussurro. – Mas Doggett não pode saber, ok? Peguei-o de cima da mesa dele! Não me leve a mal, agente Mulder! Mas… – ela baixou mais ainda o tom de voz, fazendo com que Mulder quase não pudesse ouvi-la. – A mente dele, ás vezes, é muito limitada! E, achei que o caso foi feito sob medida para você!
              Agradeço a confiança, ag. Harrison! – disse ele, rindo dos comentários acerca de Doggett. – Vou olhá-lo agora mesmo!
Movido pela curiosidade e pela familiar satisfação de quebrar as regras, como de costume, Mulder encaminhou-se novamente ao edifício sede do BUREAU. Mais uma vez, pensou na falta que sentia de Scully; assim que desse iria ligar para a parceira. Era só o que faltava para completar sua felicidade: os dois investigando juntos como antigamente.
Ao chegar à sua nova sala, deparou-se com Doggett a bisbilhotar os arquivos acima de sua mesa. Sem ter como disfarçar, Doggett encarou-o, esperando qual seria a reação de Mulder.
              Ora, ora, se não é o Dog! Que faz aqui? – perguntou, disfarçando a irritação.
              Onde o colocou Mulder? – falou Doggett em tom acusatório.
              O que? Sua vergonha na cara? – Mulder disse irônico. – Porque a meu ver, foi o que você perdeu!
              Não estou para brincadeiras, Mulder! – Doggett disse furioso. – Lamento se não o consideram digno de seu antigo trabalho, mas roubar-me um arquivo? Isso já foi demais!
              Quem é que rouba quem aqui, Doggett? – Mulder esbravejou, ainda mais furioso. – Quer que comece por onde? Talvez, por quando você roubou meu posto? Minha mesa, meu escritório e até, minha parceira?
Citar Scully foi a gota d’água para Doggett perder a cabeça. Em milésimos de segundos, os dois agentes partiram um para cima do outro, a trocar socos e pontapés; derrubando alguns dos objetos em cima das mesas. Uma secretária que passava por perto viu a briga e gritou por socorro. Skinner vinha pelo corredor, acompanhado pela agente Scully, que voltara mais cedo de viagem a fim de fazer uma surpresa. A secretária os avistou, e implorou-lhes que apartassem a briga.
* * *
Tod Simpson, 19 anos, magricelo, alto, cabelos pretos e vivazes olhos castanhos, observava Susan, 17, cabelos longos e ruivos, dormindo com um semblante angelical. Acariciava seus cabelos, pensando em como era bom vê-la viva. Ele já havia perdido quatro de seus amigos e, não suportaria perdê-la. Distraía-se ao acariciar os cabelos, levando um susto ao toque repentino do celular. Pegou-o imediatamente e saiu do quarto, não queria acordá-la. Viu escrito no visor: Sam. “Quem será Sam?” Pensou. E, ao ver que a jovem começava a acordar, entrou e puxou conversa.
              Oi Susie! Há quanto tempo não dormia assim? – falou e deu um tímido sorriso.
              É, é verdade! Faz tempo que não durmo tão bem assim!
              Entendo! Você tá passando por uma barra pesada, não?
A garota não respondeu, observava os murais pregados pelas paredes do quarto. Em vez de fotos dos momentos felizes ao lado de familiares e amigos, havia recortes de jornais sobre a morte dos três colegas; ao lado de pequenas anotações sobre lendas urbanas e  fenômenos sobrenaturais.
              Você também deve ter problemas para dormir, não? – Susan perguntou. – Quer dizer… Esses murais…
              Ah, isso! – Tod aspirou profundamente. – Não me leve a mal, mas… Sinto-me meio culpado entende? Das mortes e tal…
              Entendo perfeitamente! Ás vezes me sinto assim também! Mas isso? – ela apontou para um dos murais, que tinha o recorte da morte de Juddy Thompson. – É assustador, compreende? Eu teria pesadelos todas as noites, se tivesse que olhar para isso!
              Ah, tranqüilo! Isso não me afeta! Não é a toa que me apelidaram de sinistro, ou taciturno, sei lá! – ele riu meio sem graça. – Preciso me concentrar na investigação! Na verdade…
Porém, antes que pudesse terminar sua frase, o telefone celular de Susan tocou novamente. Era Sam Winchester. Tod entregou o aparelho para a garota e ficou observando-a. Susan atendeu seu celular, tranqüilizando Sam que há alguns minutos tentava entrar em contato. Disse-lhe que estava bem; em companhia do amigo e, que não havia motivo algum para preocupação,  então Susan desligou.
              Ah me desculpe! – ia dizendo Tod. – Tinha tocado antes, mas não achei que fosse o caso de te acordar.
              Tudo bem! Era apenas o Sam, preocupado comigo!
              Sam? Quem é Sam? – Tod perguntou, disfarçando o tom de ciúmes.
              Hum… – Susan se perturbava ao ver os murais espalhados pelas paredes do quarto. – Tod não me leve a mal, mas… Podemos conversar em outro lugar? Os seus murais estão me dando nos nervos! Não sei como consegue dormir, vendo-os sempre!
              Certo! – ele respondeu, e chamou-a para conversar na cozinha enquanto ele fazia um café. No entanto, ainda queria saber quem seria o tal Sam.
Em outro canto da cidade, no interior do Impala, Dean dirigia a caminho da Universidade.
              Onde você está indo, Dean? – Sam perguntou.
              Ué! Acabou de falar com a Susan e ela está bem, não? Pensei que seria melhor irmos investigar!
              Mas, Dean…
              Relax, Sammy! Sua paquera tá protegida, tá com o amigo. – disse dando uma piscadela.
              Ah, cala a boca, Dean! – Sam respondeu impaciente.
              Bem, você quem disse estar com pressa. Vamos perguntar aos adolescentes o que sabem das vítimas. Sugiro começarmos, pelas líderes de torcida! – disse matreiro.
              Eu sei mas… A visão… se algo acontecer, ele não saberá protegê-la! – Sam alegou.
              Santo Sammy, protetor! – exclamou zombeteiro. – Não vamos demorar ok? Assim que acabarmos, vamos atrás da sua namoradinha, herói!
Sam impacientou-se e deu um olhar apreensivo para o irmão. Faltavam apenas uns quinze minutos para chegar à Universidade Georgetwon.
* * *
              Mulder! – Scully exclamou perplexa ao vê-lo brigando com Doggett.
              Ah, oi Minha Linda! – ele respondeu, interrompendo a briga com o outro.
Doggett olhava-a envergonhado e Skinner os observava extremamente furioso.
              Eu posso explicar! – Doggett apressou-se a esclarecer.
              Certamente alguém terá de me explicar! – bradou Skinner e, sinalizou para a secretária se retirar. – Mulder, agora, já, na minha sala!
Mulder havia se encaminhado para cumprimentar Scully. Doggett permanecia deveras envergonhado.
              Mas Skinner, eu…
              Agora, Mulder! Já! – Skinner falou incisivamente. – Venha senão será pior para você!
              Vá, Mulder! – Scully completou. – Teremos muito tempo para conversar!
Impaciente e contrariado, Mulder acompanhou Walter Skinner. Doggett, ainda envergonhado, não criara coragem de cumprimentar a recém chegada colega que o apanhara em uma situação embaraçosa.
              E você, agente Doggett! Pode me explicar o que acabou de acontecer por aqui? – pediu Scully extremamente séria.
* * *
Na cozinha, Tod preparava um café cujo cheiro sentia-se de longe, ao mesmo tempo em que Susan contava-lhe acerca dos irmãos Winchester. Como eles se apresentaram a ela e a Jared, e como este não lhes deu crédito. Depois, ocorrera a morte dele e, o restante Tod já sabia.
              Aqui está seu café! – disse entregando-lhe uma xícara. – Quer dizer que eles são algum tipo de caça-fantasmas! É isso?
              É, acho que se pode chamá-los assim. – disse após tomar um gole de café. – Pena que não sabem prever quando vamos ser atacados, não é? – tomou mais um gole de café. – Assim poderiam ter evitado a morte de Jared! Acho eu!
              Sente a falta dele, não? – Tod tentava esconder uma pontada de ciúmes.
              Se não se importa, prefiro não falar sobre isso!
              Certo! Me desculpe! – Tod disse sem graça. – Aceita mais café?
              Quero sim! – Susan sorriu, entregando-lhe a xícara. – Ah, você mandou aquela policial atrás de mim, não?
              Sim! – afirmou devolvendo a xícara à amiga, com mais café. – É que… Demorei a ver seus recados e, quando os vi, notei que tava muito preocupada! E, fiquei mais, quando não consegui contatá-la! – explicou. – Daí, fui até a delegacia! Aquela policial foi a única que se prontificou a me ajudar. – deu um gole em seu café. – Os demais, me disseram que você devia ter fugido de casa, uma mera travessura adolescente, entende?
O telefone celular de Susan tocou. Desta vez, era Madlaine, alegando que precisava conversar. Quando a garota se ofereceu para ir até a delegacia, a policial solicitou que conversassem em outro lugar, para ter mais privacidade. Então, Susan convidou-a para vir até a casa do amigo, onde poderiam conversar sossegadas.
Ao chegarem à universidade, Dean e Sam encaminharam-se até a quadra de esportes. Lá, jovens atléticos treinavam futebol americano e, a um canto, um grupo de líderes de torcida se encontrava reunido, discutindo sobre a nova coreografia. Dean aproximou-se das jovens, que pararam o que estavam fazendo e passaram a observá-lo.
              Oi bonitão! – disse uma delas, que era por demais atirada. – Veio para o teste?
              Teste? – indagou Sam, surgindo logo atrás do irmão.
              Ah, dois para o teste então! – a menina exclamou. – Dois bonitões! – e virou-se para dar uma piscadela às amigas. – Nos demos bem, meninas!
Sam deu um riso tímido e envergonhado, enquanto Dean adorou receber o elogio.
              É teste para jogador do time de futebol! – ela respondeu à pergunta de Sam. – Vocês são novos por aqui? – indagou, enquanto olhava Dean de cima a baixo.
              Sim, exatamente! – Dean disse, olhando sorrateiramente para o decote da menina. – Viemos para o teste, isso mesmo!- afirmou, dando uma breve olhada nas pernas da garota.
              Não! Quer dizer… – Sam notou que agora as líderes o encaravam perplexas. – Ele veio! – apontou para Dean. – Vim apenas trazê-lo!
              Ah, ele é desengonçado! – ironizou Dean. – Uma aberração! Nem queiram ver!
              Ok! Ao menos teremos você! – disse a líder delas, piscando para Dean. – Você  poderia ser meu personal trainer também, não? Tem um físico e tanto…
Sam deu um risinho discreto de deboche, que até se esquecera da última provocação do irmão.
              Bem, ele poderia mesmo! – agora era a vez de Sam ironizar. – E pode ser seu professor particular em outras coisas também! – disse maliciosamente!
              Uau, Sério? – falou a garota. – Preciso de alguém que me ensine anatomia! – e maliciosamente, deu outra piscada para Dean.
              Ah, nisso ele é expert! –  Sam apontou para o irmão, ainda zombando. – Se me dão licença, vou andar por aí. – e retirou-se ainda rindo.
              Então meninas, somos só nós não? – Dean perguntou animado.
As líderes de torcida cercaram Dean, observando-o mais de perto. Sam notara que o treino dos rapazes havia terminado e encaminhou-se até lá. Ao aproximar-se puxou papo.
              Belo jogo! Poderia falar com vocês?
              Sobre? – disse um jovem que havia acabado de tirar a camiseta toda suada. – E quem é você?
              Sou repórter! – Sam mentiu. – Estou fazendo uma matéria a respeito das mortes de estudantes daqui! Alguém poderia me falar algo do Kevin Mahogany? Era do time de vocês!
Alguns rapazes se entreolharam assustados. Outros encararam Sam de cara feia. Por cima dos ombros, ele observou o irmão animado, em meio às garotas.
              E então, alguém pode me ajudar? – ele perguntou novamente.
 Os rapazes se entreolharam assustados e saíram rapidamente em direção ao vestuário, sem dizer nenhuma palavra. Somente um, de cabelos loiros acobreados e de camiseta n.º 5 permaneceu de frente a Sam.
              Não repare! – disse o rapaz. – Eles são babacas supersticiosos – apontou o dedo indicador para onde estiveram os rapazes há pouco tempo. – São esportistas; se acham o máximo, mas não passam de estúpidos e covardes! Acreditam que o Kevin foi amaldiçoado! E, que também serão se falarem dele, entende?
              Mas você não tem medo, não é?
              Ah, eu aturo isso aqui! – apontou para seu uniforme de jogador. –  Porque se continuar a me destacar, posso ganhar uma bolsa de estudos para a pós-graduação. Odeio esse universo dos jogadores e líderes de torcida! – ele respirou fundo. – Por exemplo, seu trabalho de repórter é muito mais digno! Mais intelectual! Mas sou pobre, entende? Dependo de bolsa de estudos, que ganho por me destacar no esporte!
              Ah, ok! – disse Sam. Até concordava com o rapaz, mas precisava saber a respeito de Kevin. – Agradeço sua consideração, mas… Poderia me falar sobre Kevin?
              Aquele babaca? Ah, não se perdeu grande coisa! – afirmou o rapaz. – Era o pior desses animais aí! Se achava superior, humilhava os demais, desrespeitava as meninas – nessa hora ele sorriu zombeteiro. – Mas essas gurias superficiais até que gostavam, entende? Em especial, a Juddy! A outra que morreu e… Ah, você já deve saber!
Sam o escutava, mas começou a ficar impaciente, pois o rapaz falava um pouco demais. Ao olhar discretamente por cima dos ombros, notou que Dean também não fizera muito progresso com as líderes de torcida, que agora exibiam algumas de suas acrobacias.
              Mas se quiser saber mesmo… – completou o rapaz, parecendo notar a impaciência de Sam. – É melhor perguntar ao professor Murdock. Dizem por aí, que ele influenciou os jovens, entende? Quer dizer, os que morreram! É o que dizem por aí!
              Ok, obrigado! – Disse Sam. – Seu nome é? – ia anotar em um caderno, já que se fingia de repórter.
              Alonso! Alonso Herrera! – ele disse orgulhoso. – Sou descendente de mexicano, ok? Não se esqueça de anotar, ok? Os babacas me torram a paciência por isso, mas tenho muito orgulho, entende?
              Certo! Certo! – Sam respondeu e afastou-se rapidamente, antes que o garoto tagarela recomeçasse a falar.
Ia ao encontro do irmão, quando surpreso, viu que Dean vinha em sua direção.
     Vamos embora daqui, Sammy!
              Ué, cansou de fazer charme, garanhão? – disse debochando do irmão.
              Aff! – fez cara de nojo. – Você tinha razão! Elas têm corpinho bonito e tudo… São até atraentes, mas…  Não falam coisa com coisa! Mas e você conseguiu algo?
              Ah, sim! Temos que procurar o professor Murdock, se lembra dele?
              Aquele que não transa há séculos? – disse Dean num tom sarcástico. – E que sabe tudo sobre lendas e sobrenatural?
              Este mesmo! – Sam confirmou. – Mas antes, vamos verificar se está tudo bem com a Susan. – completou demonstrando-se preocupado.
              Oh, Sammy! – exclamou zombeteiro, mas aquietou-se ao ver o costumeiro olhar de apreensão do irmão.

Deja un comentario